A pandemia revelou a fragilidade do sistema alimentar global

Insegurança alimentar aguda alcança o nível mais alto em cinco anos, alerta Relatório da Rede Global contra Crises Alimentares

By Rawpixel

Cerca de 155 milhões de pessoas em 55 países estiveram em situações de escassez aguda de alimentos em 2020 – são 20 milhões a mais em relação a 2019. Os dados, exacerbados pela pandemia de coronavírus, por condições climáticas extremas e por conflitos armados, foram revelados esta quarta-feira no relatório da Rede Global Contra as Crises Alimentares (GNAFC, na sigla inglesa). É o número mais elevado de pessoas nesta situação dos últimos cinco anos.

Das 155 milhões de pessoas, 28 milhões estão em risco de passar fome e a situação pode agravar-se no espaço de semanas, disse à Al-Jazeera Luca Russo, um dos co-autores do documento e do gabinete de emergência e reabilitação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, em inglês)​.

“Não podemos esperar por uma declaração sobre a escassez de alimentos para agir”, continuou, apelando à comunidade internacional para disponibilizar assistência aos países mais vulneráveis, que recebem 97% de assistência humanitária externa.

O estudo anual, fruto de uma parceria entre a União Europeia, a FAO e o Programa Alimentar Mundial da ONU, atribui o agravamento da situação alimentar mundial a três fatores: conflitos armados, condições climatéricas extremas e pandemia de coronavírus. “É uma combinação tóxica”, reforçou Russo.

Como explicou no prefácio do relatório o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “o conflito e a fome reforçam-se mutuamente e não podem ser resolvidos separadamente”. O conflito “força as pessoas a fugirem das suas casas, terrenos e empregos. Perturba a agricultura e o comércio, reduz o acesso a recursos vitais, como a água e eletricidade, resultando na fome”.

A pandemia de covid-19 e respectivos “choques econômicos” revelaram “a fragilidade do sistema alimentar global e a necessidade de sistemas mais equitativos, sustentáveis e resilientes”, disseram as organizações parceiras numa declaração conjunta. Por isso, “uma transformação radical nos nossos sistemas agroalimentares é urgente”, acrescentaram.

Os países mais pobres são os mais afetados e dez sobressaíram pela situação alimentar especialmente preocupante: República Democrática do Congo, Afeganistão, Síria, Sudão, Sudão do Sul, Iémen, Zimbabué, Haiti, Nigéria (região Norte) e Etiópia. Estima-se que mais de 103 mil pessoas encontravam-se, no ano passado, na situação mais severa ou de “catástrofe” de escassez de alimentos, podendo resultar em elevados números de mortes.

Por regiões, a mais massacrada pela escassez de alimentos é África, onde vivem 97,9 milhões de pessoas nesta situação, ultrapassando o Médio Oriente com 29,4 milhões, Sul da Ásia com 15,6 milhões, a América Central e Caribe com 11,8 milhões e o Leste Europeu com 600 mil.

E as previsões para 2021 não são animadoras: prevê-se “um cenário desolador para 2021, com a ameaça da fome persistindo em algumas das piores crises alimentares do mundo”, alertou o GNAFC. “Se as tendências atuais não forem revertidas, as crises alimentares serão mais frequentes e mais severas”, concluiu.

Fonte: www.publico.pt

O Relatório Global sobre Crises Alimentares de 2021, em inglês, pode ser acessado aqui: (https://www.fsinplatform.org/sites/default/files/resources/files/GRFC%202021%20050521%20med.pdf)


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