Iniciada em março no país, a Campanha #Mulheres Rurais, mulheres com direito faz parte de uma iniciativa da FAO e de outras organizações com o intuito de promover as produtoras do campo, responsáveis pela maior parte da produção de alimentos, não só no Brasil, mas em todo o mundo
Brasília - “Eu sou uma Maria quarqué, uma dessas muié que vive na roça que viaja de carroça, de cavalo ou a pé. Eu sou uma Maria quarqué dessas que acorda cedinho, faz o bolo e o café, cuida da casa e do quintar, dos bichinhos, dos animar que sustenta o Brasil de pé. Eu sou a Maria quarqué que tira leite da vaquinha, cuida das prantas e das galinhas. Sou Maria muié de fé. Sou Maria forte, sou do Sul, sou do Norte, não importa o lugar, em qualquer parte do praneta existe uma Maria coma eu que luta com fé e coragem na lida que Deus lhe deu...”.
Esse é um trecho do poema “Maria Quarqué” de Gracivan da Silva Santos Pereira, mais conhecida como Kennya Silva. A poeta, natural de Xinguara – Pará, foi uma das ganhadoras do Concurso Vozes, Imagens, Histórias e Experiências das Mulheres Rurais do Brasil. Kennya venceu na categoria “Relatos de Vida: Testemunhos e as experiências de mulheres que vivem e trabalham em áreas rurais do Brasil.
A premiação faz parte Campanha #Mulheres Rurais, mulheres com direito, lançada em março deste ano e organizada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Reunião Especializada em Agricultura Familiar no Mercosul (Reaf), a Unidad para el Cambio Rural (UCAR) da Argentina e, no Brasil, pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead).
“Em todo o mundo, as mulheres rurais desempenham um importante papel na garantia da segurança alimentar. Apesar do trabalho relevante que exercem, elas têm uma série de desafios a serem superados, já que estatisticamente apenas 30% são donas formais de suas terras, 10% conseguem ter acesso a créditos e 5% à assistência técnica. Campanhas como essa são essências para trazer o tema para o centro da pauta das instancias governamentais e sensibilizar os tomadores de decisão no sentido de criar políticas específicas para as produtoras rurais”, ressaltou o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic ao avaliar o impacto da Campanha no país.
Concurso nacional
O Concurso Vozes, Imagens, Histórias e Experiências das Mulheres Rurais do Brasil contou com duas categorias: relatos de vida, que abrange o testemunho e experiências de mulheres que vivem e trabalham nas áreas rurais do Brasil; e experiências de Organizações, ou seja, boas práticas que apresentem exemplos de melhoria da qualidade de vida das agricultoras e do entorno comunitário.Foram mais de 100 inscritas nas categorias de Relatos de Vida e Experiências de Organizações. Mulheres rurais, negras, quilombolas, indígenas, de todos os lugares do país, contando histórias emocionantes que retratam a luta das brasileiras que vivem no campo. “O resultado do concurso no Brasil nos mostrou até onde conseguimos chegar com a Campanha. Outra vencedora foi uma índia da tribo Krahô. Imagina! A campanha chegou às tribos indígenas. O concurso contribuiu para revelar quem são as mulheres rurais "invisíveis" que tanto contribuem para a segurança alimentar e nutricional e para a economia dos nossos países. São elas as responsáveis pelos processos de inovação e diversificação dos sistemas alimentares”, salientou Geise Mascarenhas, ponto focal de Gênero da REAF.
Os primeiros lugares das categorias do concurso serão premiados na 27ª Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul (REAF Mercosul), que será realizada na próxima semana na cidade de Florianópolis – Santa Catarina.
Campanha Regional
A iniciativa também buscou visibilizar a situação atual das mulheres rurais na América Latina e Caribe, assim como direitos e o potencial para alcançar o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
A Campanha também se uniu a outros esforços já desenvolvidos na região. No começo deste ano a Comunidade dos Estados Latino-americanos e caribenhos (CELAC) aprovou a estratégia de gênero no âmbito do acordo regional Plano para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome 2025.
A estratégia de gênero do Plano SAN CELAC tem como intuito orientar os países a aprofundarem na erradicação da fome e da má-nutrição adotando o enfoque de gênero e de direitos que garantam que os resultados do plano beneficiem de maneira igualitária mulheres e homens.
Assim como o Brasil promoveu nacionalmente o Concurso para reunir histórias de mulheres rurais, o mesmo formato foi desenvolvido para produtoras rurais da região e outro nacional foi realizado na Argentina. O concurso regional recebeu 244 relatos de vida de 18 países. No concurso regional venceram as experiências Rota do Cacau, da Bolívia, e do açúcar mascavo, da Colômbia. Esta última revela a força das mulheres para se organizarem de forma produtiva em um país que se recupera de meio século de conflito armado e que prejudicou principalmente as mulheres rurais.
“As histórias que participaram do concurso nos transportaram a diversos mundos das mulheres rurais que nos contaram suas ideias, desafios e principalmente seus sonhos”, disse Claudia Brito, Oficial de Gênero da FAO na época em que as ganhadoras foram reveladas. As vencedoras também serão premiadas durante a reunião da REAF na próxima semana. Também como resultado final da Campanha as organizações devem encaminhar aos países do Mercosul uma proposta de recomendação de enfrentamento à violência contra as mulheres rurais e será um dos temas a serem tratados na Campanha.
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