Do UOL, em São Paulo, com Agência Fapesp
Imagem:
ebdrc.wordpress.com
Se você acha que quem mora em regiões
mais rurais do Brasil ainda segue à risca a dieta de alimentos frescos e
locais, saiba que está enganado. Um estudo conduzido por pesquisadores da USP,
UnB, UFAC e da UERN apontou que cada vez mais o brasileiro come o mesmo tipo de
comida. Produtos industrializados, como o frango congelado, já invadem os
confins do país em detrimento de alimentos locais.
Por exemplo, a dieta de comunidades
ribeirinhas na Amazônia brasileira, que antes era composta principalmente por
alimentos produzidos localmente, como peixe com farinha de mandioca, passou a
ser integrada por alimentos industrializados, como enlatados e frangos
congelados produzidos nas regiões sul e sudeste do país.
"De uma forma geral, os dados
obtidos indicam uma homogeneização do padrão alimentar no Brasil", disse
Gabriela Bielefeld Nardoto, professora da UnB e uma das autoras dos estudos.
“Apesar
do isolamento, as populações rurais de diferentes regiões do Brasil têm aderido
cada vez mais à 'dieta de supermercado', composta por alimentos processados e
ultraprocessados”.
Estudo
analisou diferentes comunidades
Os estudos iniciais, de 2002,
indicaram que a dieta de habitantes de cidades como Piracicaba, no interior de
São Paulo, e Santarém, no interior do Pará, era semelhante.
Os resultados dos estudos com essas
diferentes populações sugeriram que há uma homogeneização do padrão alimentar
de moradores que vivem em aglomerados rurais e urbanos de diferentes tamanhos.
Os pesquisadores não encontraram
diferenças das comunidades caiçaras e do "sertão" de Ubatuba em
comparação com os moradores das classes C e D de Piracicaba. "Essas
populações já aderiram totalmente à dieta de supermercado", afirmou
Nardoto. "Os pescadores das comunidades caiçaras, por exemplo, usam parte
do dinheiro que conseguem com a venda do pescado para comprar frango congelado
no centro de Ubatuba", contou.
Já entre os moradores das regiões
rurais da Amazônia, os pesquisadores observaram que há um vínculo mais forte
com os alimentos produzidos regionalmente. No entanto, notaram uma perda da
identidade alimentar dessas populações e a penetração de alimentos
industrializados, como frango congelado, bolachas, embutidos e refrigerantes,
em suas dietas.
"Nossa hipótese era a de que as
comunidades mais afastadas dos centros urbanos estariam mantendo a dieta do
peixe com farinha. Mas não foi isso que observamos ao longo do rio
Solimões", disse Nardoto.
"Pensamos que poderia haver uma
diferença no padrão alimentar das populações do sertão, da cidade e litorânea,
mas a assinatura isotópica deles é a mesma", disse Nardoto. "Esse
padrão é muito parecido com o que observamos no Norte, Centro-Oeste e no Estado
de São Paulo", comparou.
Um estudo recente realizado por
Rodrigo de Jesus Silva, da Esalq, analisou a mudança do padrão alimentar de
comunidades remanescentes do quilombo Kalunga, situadas na Chapada dos
Veadeiros. Ele constatou que as comunidades que têm mais fácil acesso à estrada
já adotaram a "dieta do supermercado".
Impactos
ao organismo e ao ambiente
Na avaliação da pesquisadora, a
homogeneização do padrão alimentar no Brasil, em razão de fatores como aumento
da urbanização e melhoria das condições sociais – que têm levado a mudanças no
estilo de vida e à substituição de alimentos produzidos localmente por itens
processados –, tem causado uma simplificação das fontes alimentares e uma
mudança de uma alimentação C3 para C4.
A dieta do brasileiro, que até então
era baseada em alimentos oriundos de plantas do tipo fotossintético C3, como o
arroz e o feijão, tem se tornado cada vez mais composta por alimentos
originados de plantas C4, como o milho e a soja, presentes na ração de diversos
animais, além da cana-de-açúcar.
"Os alimentos C4 não fazem mal à
saúde. O problema é como são processados, o que faz com que tenham alto teor de
gordura, sal e açúcar e contribuam para o aumento da incidência de obesidade e
de doenças cardiovasculares", ponderou.
Já a perda da identidade alimentar
pelas comunidades tradicionais também pode ter impactos na conservação
ambiental, apontou. "À medida que essas comunidades perdem sua identidade
alimentar, também acabam perdendo sua relação com a paisagem local. Se não
precisam mais do peixe para se alimentar, o rio deixa de ser uma fonte
alimentar e passa a ser somente um meio de transporte", avaliou.
Veja matéria
completa em: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/08/08/acai-no-norte-peixe-na-praia-nao-brasileiro-prefere-o-frango-congelado.htm
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