Continuamos na luta contra a contaminação em Camaquã!!! Pedimos o apoio de todas e todos a essa causa
Sul21 -
“Mineração aqui, não!”. O grito vem sendo ouvido desde meados do
ano passado na região. As vozes são de moradores do distrito das Palmas, de
estudiosos das questões ligadas ao meio ambiente e de parte da população local.
Em novembro de 2016 eles criaram um movimento contra o projeto de exploração de
metais pesados às margens do Rio Camaquã da empresa Votorantim. Hoje, cerca de
um ano depois, comemoram surpresos as manifestações solidárias de instituições,
personalidades e das comunidades.
“Não imaginávamos essa grande repercussão. O
movimento conquistou apoio em todo o estado”, comemora Márcia Collares.
Moradora do distrito de Palmas até os 12 anos de idade, Márcia é uma das
líderes do movimento Unidade Pela Preservação do Rio Camaquã. Ela conta que a
família tem trabalhado diariamente na luta contra a mineração.
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A mineradora pretende extrair a céu aberto 36 mil
toneladas de chumbo, 16 mil toneladas de zinco e 5 mil toneladas de cobre por
ano. Com prazo de funcionamento de 20 anos, o denominado “Projeto Caçapava do
Sul” prevê um investimento inicial de R$ 371 milhões e a geração de 450
empregos somente para Vila de Minas do Camaquã, Caçapava do Sul e Santana da
Boa Vista. Quem se opõe ao projeto teme a contaminação do rio e do solo da
região, visto que a empresa pretende explorar metais pesados. A desvalorização
do selo de produção sustentável conquistado pelos produtores do Alto Camaquã é
outra preocupação.
Em uma série de
audiências públicas realizadas entre julho e novembro do ano
passado em Vila de Minas do Camaquã, Caçapava do Sul, Bagé, Pinheiro Machado e
Santana da Boa Vista, moradores ouviram representantes dos responsáveis pelo
projeto de mineração. Algumas comunidades se manifestaram favoráveis ao projeto
sob o argumento de que a região precisa de investimentos.
“A Votorantim poluiu muito a cabeça das pessoas”,
ironizou Régis durante sua fala. A referência era ao difícil processo de
convencimento da população sobre os malefícios da mineração. Esse foi um dos
pontos positivos apontados pelos participantes do seminário: em muitos locais
que antes eram favoráveis, os moradores já se mostram “desconfiados”. “No
começo, nos recebiam muito mal. Éramos expulsos das casas, mas isso mudou”,
relatou uma integrante do movimento.
Para a advogada do movimento Unidade Pela
Preservação do Rio Camaquã, Ingrid Birnfeld, nesse primeiro ano houve um
“convencimento crescente nas comunidades que eram favoráveis ao projeto”. “Em
Santana da Boa Vista, por exemplo, pensavam nos empregos indiretos que poderiam
ser gerados, mas perceberam que não há mão de obra qualificada e que esses
empregos seriam para trabalhadores de outras localidades”, relata a advogada.
Ingrid lembra que enquanto os moradores estão
denunciando os efeitos da possível exploração de metais pesados no Alto
Camaquã, no plano jurídico os ministérios públicos Federal e Estadual conduzem
inquéritos. Além disso, recentemente, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Camaquã e o Conselho Estadual dos Direitos Humanos apoiaram a luta do
movimento. Para Ingrid, o projeto é “imoral, ilegal e antiético”.
“Ilegal porque não observou requisitos básicos
estabelecidos na legislação que disciplina os licenciamentos ambientais”,
afirma, explicando que a proposta não leva em consideração os efeitos em toda a
bacia hidrográfica, mas apenas ao longo de 3 quilômetros no Rio Camaquã. A
Bacia Hidrográfica tem, ao todo, quase 22 mil quilômetros quadrados. “Não houve
a consideração de políticas nacionais que estão em curso na região e que são
incompatíveis com mineração, como por exemplo, um projeto
que existe há quase dez anos de incentivo à agricultura
sustentável”, argumenta.
“É imoral porque que estabeleceu uma área de
ocorrência restrita para fazer com que as comunidades que vão ser atingidas não
fossem consultadas. A empresa fez uma escolha temerária do ponto de vista
estratégico quando definiu uma área de influência muito restrita”, afirma
Ingrid.
Eticamente ela condena o “Projeto Caçapava do Sul”
porque o Brasil se comprometeu a ter, até 2020, 10% de cada um de seus biomas
em territórios protegidos dentro de unidades de conservação e o Bioma Pampa é o
que tem o menor território dentro dessas unidades. “E o estado se permite
cogitar um empreendimento desse porte na porção mais preservada do Bioma Pampa.
Como que isso não pode ser considerado antiético?”, questiona.
“É um assombro o número de projeto de mineração no
Rio Grande do Sul”, diz Althen Teixeira Filho, professor do Instituto de
Biologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “A exploração minerária
escalpela a terra, vai embora e deixa a pobreza e a destruição para a região. É
a destruição da terra para uns poucos fiquem ricos e a região fique abandonada.
A própria Minas do Camaquã já é um exemplo disso”, aponta.
O professor chama o projeto de “burla científica” e
não hesita quando questionado se há um inimigo único: “o capital”. Ele alerta
que a mineração pode alterar o perfil econômico da região, preocupação
compartilhada pelo pesquisador Marcos Borba. “Nós estamos enfrentando uma
disputa de modelos. O que está em jogo é a mudança na matriz produtiva do Pampa
Gaúcho”, alerta o pesquisador, que atua na Embrapa na região.
“Eu analisei o projeto e, como professor, dei nota
4,5”, pontua o oceanógrafo Antônio Liborio Philomena. Professor aposentado da
Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e Ph.D em Ecologia pela Universidade
da Geórgia (EUA), ele trabalhou recentemente em uma pesquisa independente sobre
os impactos ambientais do desastre
de Mariana (MG). Philomena aponta “falhas grosseiras” no
projeto. “Eles não acharam um terço das espécies de peixes que temos na
região”, exemplifica.
“Essa é uma área especial no Brasil, tem valor
cultural ambiental importantíssimo. Não vai ser uma mineradora que daqui a 20
anos vai ir embora e deixar um buraco que transformará a região sem ter um bom
debate”, critica o professor Antônio Philomena. Ele diz que antes da pressão do
movimento Unidade Pela Preservação do Rio Camaquã a comunidade não tinha sido
ouvida.
Fonte: Sul21
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