Brasil é o país que mais usa agrotóxico no mundo, inclusive vários que são proibidos em diversas partes do planeta, banidos da Europa e dos Estados Unidos
POR CHICO JUNIOR
O mundo caminha para um consumo cada vez maior de alimento orgânico. A Dinamarca, por exemplo, começou há 25 anos uma política agrícola-ambiental que vai torná-la, até 2020, o primeiro país do mundo a ter sua produção de alimentos 100% orgânica. Está conseguindo isso graças a um forte trabalho de conscientização e por intermédio de subsídios aos pequenos agricultores.
Resumidamente, o alimento orgânico também pode ser chamado de agroecológico — a agroecologia pode ser definida como o estudo da agricultura a partir de uma perspectiva ecológica. É aquele produzido de forma sustentável, respeitando-se e não agredindo o meio ambiente e não utilizando fertilizantes químicos e, muito menos, os defensivos agrícolas químicos, os chamados agrotóxicos. Diga-se de passagem que o Brasil é o país que mais usa agrotóxico no mundo, inclusive vários que são proibidos em diversas partes do planeta, banidos da Europa e dos Estados Unidos.
A produção e o consumo de orgânicos se dão por duas razões básicas: aumento do que chamamos de consciência ecológica e o desejo de se consumir alimentos mais saudáveis.
No Brasil, caminha-se ainda lentamente, mas caminha-se, o que faz com que os produtos ainda sejam caros e fora do alcance da maioria. Mas o fato é que a produção vem aumentando ano a ano e os preços, de maneira geral, diminuindo.
Os números são interessantes. Segundo a Coordenação de Agroecologia da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (Coagre), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a área de produção orgânica no Brasil pode ultrapassar os 750 mil hectares registrados em 2016, graças, principalmente, à agricultura familiar — cerca de 75% dos produtores registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos são agricultores familiares. Cooperativas agrícolas dedicadas unicamente à produção orgânica espalham-se por todas as regiões do Brasil, mostrando que os agricultores familiares reconhecem na agroecologia e na produção orgânica uma maneira de comercializar alimentos com valor agregado.
Em apenas três anos, houve um salto de 6.700 unidades de produção (2013) para aproximadamente 15.700 (2016). Ou seja, foi registrado mais do que o dobro de crescimento deste tipo de plantio no Brasil. Em 2016, o mercado de orgânicos no país faturou mais de R$ 3 bilhões, além de US$ 145 milhões em exportações. Segundo a Coagre, em 2017 a área de produção orgânica no Brasil pode ultrapassar os 750 mil hectares registrados em 2016. Em 2016 o crescimento da produção foi de 15% em relação a 2015. E para 2017 o setor prevê um aumento entre 25% a 30%.
Entre as regiões que mais produzem alimentos orgânicos, o Sudeste fica em primeiro lugar, totalizando 333 mil hectares e 2.729 registros de produtores no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Seguem-se o Norte (158 mil hectares), Nordeste (118,4 mil), Centro-Oeste (101,8 mil) e Sul (37,6 mil).
Embora a Companhia Nacional de Abastecimento, órgão do governo federal, não diferencie a produção orgânica da convencional (com agrotóxicos e outros aditivos químicos) na sua estimativa atual de safra, tudo indica que o Brasil é, hoje, o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. A afirmação é feita pelo Instituto Riograndense do Arroz, órgão do governo gaúcho. Esse arroz, comercializado pelo MST, é produzido em 22 assentamentos diferentes, envolvendo 616 famílias gaúchas. Essa informação foi, inclusive, objeto de reportagem da BBC inglesa. A safra prevista para 2017 é de 27 mil toneladas.
Segundo o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, lançado em 2012 e que tem como principal objetivo fortalecer a produção agrícola de base agroecológica e orgânica, pelo menos mais oito mil agricultores familiares devem se cadastrar por meio de projetos incentivados pelo governo federal.
Em suma, orgânico é economia, é saúde, é proteção ambiental.
Chico Junior é jornalista e escritor
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