O número de restaurantes aderentes à iniciativa duplicou PAULO PIMENTA
Da próxima vez que for comer fora no Porto é possível que veja um desdobrável vermelho na mesa do restaurante que diz o seguinte: “Quem não come tudo, Embrulha.”, seguido de uma explicação que a comida que ficou na travessa pode ser levada para a casa sem qualquer custo, numa embalagem especialmente desenhada para o efeito. É o regresso do projecto Embrulha que, depois de uma breve passagem pelos restaurantes portuenses em 2016, chega com novas ambições.A iniciativa lançada no ano passado esteve no terreno apenas durante uma semana — depois de meses de estudos e inquéritos a estabelecimentos e clientes —, e conseguiu evitar o desperdício de cerca de 30 quilos de alimentos. Mas agora é diferente: o Embrulha vai estar mais tempo à mesa dos restaurantes. A iniciativa, segundo a responsável pelo projecto, Susana Freitas, “é para continuar e crescer de forma sustentável” ao longo do tempo.
Esta continuidade vai andar de mão dada com a vontade dos restaurantes. Numa conferência de imprensa marcada para anunciar o relançamento do projecto, o vereador da Inovação e Ambiente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, reconheceu isso mesmo: “Temos que trabalhar muito com os restaurantes porque são eles que vão dar a conhecer o projecto às pessoas”.
Segundo a Lipor, a empresa que trata do lixo da região, o objectivo passa por “reduzir a fracção alimentar nos resíduos urbanos produzidos neste município”. Para já, os primeiros sinais são animadores. A comida pode ser embrulhada em 31 restaurantes do Porto, ou seja, o interesse duplicou no espaço de um ano pois em 2016 aderiram 15 estabelecimentos.
Em 2016, o projecto foi conduzido com a Lipor, em parceria com um grupo de estudantes da Universidade de Wageningen, na Holanda. Os resultados foram positivos e incentivaram esta nova edição: na altura, o grau de satisfação de clientes e restaurantes superava os 80%.
Acabar com o estigma
No que toca à redução do desperdício alimentar, o Embrulha é apenas um exemplo das actividades que a Lipor e os municípios associados — Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde — têm vindo a dinamizar nos últimos tempos. Para o vereador Filipe Araújo, é este o caminho a seguir para deixar para trás a economia linear e transitar para uma circular.
Este ano, o Embrulha conta com a parceria da Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT), que ajudou na captação de restaurantes. “Toda a gente está mais sensibilizada. Por parte dos estabelecimentos, ninguém gosta de deitar comida fora. O mesmo se passa ao nível do consumidor, há mais receptividade para este tipo de campanhas”, sintetiza Helena Carrelhas, engenheira alimentar, que representou a APHORT na apresentação do projecto.
No entanto, no entender do vereador, o que muitas vezes impede que as pessoas peçam para levar comida para casa, é a “vergonha”. Este impulso por parte das entidades envolvidas — à Câmara do Porto, e Lipor junta-se a APHORT e a HIDurbe — quer também deixar para trás o estigma de pedir para levar o que ficou na travessa.
Texto editado por Ana Fernandes
https://www.publico.pt/2017/
Comentários
Postar um comentário