Madison, nos Estados Unidos, tem a cultura de consumir o que é orgânico, sustentável e produzido na própria região
POR SUSANA BERBERT, DE MADISON (ESTADOS UNIDOS)
“Esse
é meu jardim. Foi assim que eu comecei minha manhã”. A fazendeira Jeane
Martin segurava orgulhosa o celular. Na tela do equipamento, aparecia a
imagem do vale onde fica sua fazenda, e com as unhas sujas de terra ela
apontava os detalhes da paisagem. As flores que podíamos ver em
primeiro plano haviam brotado há algumas semanas, ela disse, e já
estávamos no meio da primavera. Ao fundo da fotografia, duas montanhas
se encontravam e o espaço entre elas formava um "V", mostrando o céu e a
luz do sol ainda tímida que surgia com o crepúsculo. “Esse lugar é
lindo. Eu sou muito grata pela vida que tenho.”
De abril até novembro, mais de 300 produtores se revezam na Dane County Farmers' Market
Naquele
sábado, Jeane e o marido, Michael Martin, haviam acordado às três horas
e meia da manhã para chegarem até a Dane County Farmers' Market, a
feira de produtores locais mais famosa de Wisconsin, Estados Unidos,
localizada na cidade de Madison, a capital do Estado. Há vinte anos,
durante o verão, eles repetem a mesma rotina: às quintas começam a se
preparar para ir à feira, separando beterrabas, cenouras e realizando a
colheita do alface. Nas sextas, colhem mais folhagens e verduras. Vendem
tudo aos sábados, das seis da manhã às duas horas da tarde.
A
barraca da fazenda Jones Valley Farm é uma das cerca de 160 que cercam o
capitólio da cidade quando o inverno passa e a temperatura se aproxima
dos 20 graus celsius. De abril até novembro, mais de 300 produtores se
revezam no espaço, provendo aos moradores da cidade e região produtos
alimentícios, artesanatos e flores locais e de alta qualidade, enquanto
preenchem a paisagem, antes branca e vazia, com cores vivas e
movimentos.
A
feira encanta desde os que passam por ela pela primeira vez até os que
já a frequentam por décadas.“Temos compradores que nos acompanham desde
que começamos na feira, em 1996, e que não faltam nenhum sábado”, conta
Jeane. “Aqui as pessoas preferem comida local e são dedicadas ao
fazendeiros. Elas querem saber o que temos de diferente e de novo, então
chegam logo cedo porque têm medo que alguém compre e nosso produto
acabe.” Enquanto conversávamos, a mulher ocasionalmente interrompia a
fala para abraçar compradores conhecidos e me oferecia diferentes tipos
de alfaces para experimentar. “Nós trazemos o melhor que temos. Nós
investimos em coisas diferentes, que crescem em diferentes locais, como
no mediterrâneo.”
A
algumas barracas de distância, Willi Lehner conversava animado com os
clientes enquanto vendia seus queijos. Quando perguntei se ele poderia
me contar um pouco sobre sua experiência como vendedor na feira, ele
respondeu: “É claro! Essa é a melhor parte!”. O senhor de 60 anos oculta
de seus compradores a idade com disposição de menino durante todo o dia
de venda, em que comanda sozinho sua barraca, uma das mais disputadas
do local. “Faço yoga todas as manhãs. Hoje acordei às três e meia e fiz
antes de vir”, contou. Há 30 anos na Farmers Market, Willi é um dos
produtores de queijo mais respeitados de Wisconsin, que é conhecido
mundialmente pela sua imensa variedade do laticínio: com mais de 600
tipos, em 2015 o Estado produziu 1,5 bilhão de quilos do produto, que
dominam cardápios de restaurantes locais e supermercados.
Wisconsin é conhecido mundialmente pela variedade de queijos, com mais de 600 tipos
Comprar
queijo local, mais do que qualquer outro item, é uma obrigação e um
orgulho para os naturais do Estado. O prazer em consumir o que vem de
casa ficou claro quando, em meio à nossa conversa, uma compradora
interrompeu a fala do homem, dando-lhe um abraço efetuoso, e disse: “Eu
comprei queijo aqui com o Willi por 25 anos. Hoje moro na Califórnia e
quando venho pra Wisconsin levo o produto dele pra casa. Ele é um
mestre. Há bons produtores de queijo na Califórnia, mas não chegam perto
dos que são feitos aqui. E o Willi é o melhor! O melhor!”
Veja a reportagem completa: https://goo.gl/i8PZ7L
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