Morte de insetos põe agricultura em risco e pode custar bilhões ao Brasil






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Abelha em flor de macieira; produção de maçã é uma das mais dependentes de insetos polinizadores

GABRIEL ALVES
DE SÃO PAULO

01/12/2016 02h02

A população de abelhas e outros insetos polinizadores está diminuindo em todo o mundo, o que faz cientistas correrem para calcular o impacto na agricultura e de propor possíveis soluções.

Segundo as contas feitas por pesquisadores de Minas Gerais e do México, o Brasil poderá perder de 16,5 a 51 milhões de toneladas de produtos agrícolas se a situação continuar piorando. Isso equivale a um prejuízo de US$ 4,9 bilhões (R$ 16,6 bi) a US$ 14,6 bilhões (R$ 49 bi).

O motivo disso é que as culturas que são polinizadas têm alto valor de mercado, representando 68% do total da agricultura brasileira. Segundo os cientistas, muito do impacto econômico causado pela falta de insetos o seria sofrido pela agricultura familiar, responsável por 74,4% do setor.

Para chegar aos números, os pesquisadores desenharam dois cenários –um pessimista e um otimista– e estimaram qual seria o prejuízo para cada um dos 53 principais cultivos no país, de acordo com a dependência da polinização para a produtividade de cada plantação.

Por exemplo, o café,o melão e a maçã são culturas que têm de moderada a alta dependência de polinizadores. Em última análise, a produção de sementes (como a soja) e de frutos (como a goiaba) depende desse serviço ecológico, que consiste no transporte das células reprodutivas masculinas, levando-as até as células femininas.

Em algumas culturas, como na de maracujá, há apenas uma espécie que faz bem o trabalho (a abelha conhecida como mamangava). Sem ela –por causa de defensivos agrícolas ou baixa tolerância às mudanças climáticas, por exemplo–, a produtividade despenca.

Em alguns casos, o vento, a água e até a autopolinização podem dar conta do recado. É o caso de três das principais culturas do país: cana-de-açúcar, milho e arroz.

Mas isso não quer dizer que essas plantações estejam livres de "culpa" pelo que está acontecendo, segundo os autores do estudo, publicado na revista "Plos One". O principal fator para o declínio é a mudança de uso da terra, ou seja, a transformação de extensas áreas de floresta ou mata nativa em monocultura.

SOLUÇÕES

Uma das medidas para mitigar esse impacto está na agenda dos ambientalistas há tempos: manter uma área da mata nativa junto à propriedade –e que ela não seja fragmentada–, explica Cássio Nunes, doutorando da Universidade Federal de Lavras e um dos autores do artigo.

Com isso, polinizadores como abelhas, mariposas, borboletas, moscas e até morcegos podem ser preservados, já que não faltariam alimento ou abrigo, para que ofereçam seus serviços aos agricultores.

Por outro lado, se há abelhas pode haver pragas circulando pela plantação. Seria possível fazer um inseticida que não agredisse as abelhas e outros polinizadores?

Segundo Osmar Malaspina, professor da Unesp e um dos maiores especialistas do país no assunto, esse produto não existe. Ele diz que o uso incorreto dos agrotóxicos também contribui para a mortandade das abelhas e que as próprias fabricantes estão preocupadas e estudando o assunto.

"Mas existem relatos de lugares em que o número de colônias de abelhas está aumentando", afirma. Dessa forma, seria difícil bater o martelo sobre o tamanho do prejuízo, embora exista um consenso científico na área de que os polinizadores estão, sim, ameaçados.

Tanto que a substituição deles pela força de trabalho humana é uma realidade na China, onde a população de insetos em algumas regiões caiu a níveis alarmantes. Sem a intervenção do homem, a produção dos pomares de macieiras despencaria.

"É uma tarefa custosa, e é por isso que o governo tem que tomar posições, para que daqui 150 anos não digam que poderíamos ter salvo a produção de alimentos se tivéssemos preservado as abelhas", diz Malaspina.

Uma das ações possíveis é aumentar o rigor para um novo agrotóxico ser aprovado pelo Ibama. A previsão é que uma lei vigore em 2017.

Outra solução, aventada pelos autores do estudo da "Plos One", é o incentivo ao uso da agricultura orgânica. O problema é o alto custo dessa forma de cultivo, diz Malaspina, o que torna a prática tão inviável quanto uma abolição completa do uso de agrotóxicos.

VIDA DE INSETO
Perda de polinizadores ameaça importantes culturas no Brasil

O que são?
Polinizadores são animais, geralmente insetos, que se deslocam de flor em flor, carregando células reprodutivas masculinas das plantas, levando-as até as células femininas e fazendo com que haja fecundação, formação de sementes e, consequentemente, de frutos

Na prática
A quantidade produzida de algumas culturas pode cair, tornando-as indisponíveis e/ou mais caras

Dependência
Entre os exemplos de culturas altamente dependentes da polinização estão: maçã, abacate, café, goiaba, melão, maracujá, melancia, tomate, pêra e pêssego

De 16 a 51 milhões
De toneladas de comida podem ser perdidas no futuro por causa do declínio na população dos polinizadores

US$ 14,56 bi
Pode ser o prejuízo financeiro no pior cenário estimado

PROBLEMAS E PROPOSTAS

Grandes áreas de monocultura
  Problema: Ou o inseto não consegue se alimentar da cultura ou ele fica sem comida na entressafra
  Proposta: Manter um trecho de mata nativa na propriedade e/ou aplicar rotação de culturas

Mudanças climáticas
  Problema: Alguns polinizadores não conseguem sobreviver muito bem a temperaturas elevadas e em ambientes secos
  Proposta: Tentar atenuar os efeitos no clima causados pelo homem, como as emissões de carbono para a atmosfera

Inseticidas
  Problema: Muitas vezes inseticidas e pesticidas acabam tendo como efeito colateral e indesejável a morte de insetos polinizadores
  Proposta: Aumentar o número de pesquisa para desenvolver defensivos agrícolas e estratégias que não afetem os polinizadores

Fonte: https://goo.gl/cZWNu3

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