Pesquisa vai gerar metodologia para mapear castanhais na Amazônia

Foto: Siglia Souza
A fim de contribuir para o fortalecimento da cadeia de valor da castanha-do-brasil, um grupo de pesquisadores está desenvolvendo um projeto amplo, que caminha por duas vias principais: geração de metodologias para auxiliar no mapeamento e modelagem da ocorrência de castanhais nativos da Amazônia Brasileira, por meio de geotecnologias, e caracterização das relações sociais e econômicas dos sistemas de produção da castanha.
O projeto Mapeamento de Castanhais Nativos e Caracterização Socioambiental e Econômica de Sistema de Produção de Castanha-do-Brasil na Amazônia ou, simplesmente, MapCast, começou em 2014 e já coletou de diversos dados, que agora estão em fase de consolidação e análise. "Imagens de satélite de diferentes sensores estão sendo avaliadas quanto à possibilidade de detecção de árvores de castanheiras, uma vez que estas são dominantes no dossel (estrutura formada pela copa das árvores) da floresta", destacou a pesquisadora da Embrapa e líder do projeto, Kátia Emídio.
Mas a dominância da castanheira-do-brasil não diminui um importante desafio para a equipe de pesquisadores: a grande diversidade florística existente nas florestas tropicais. Em seus ambientes naturais, as castanheiras podem estar acompanhadas de uma multiplicidade de até 300 espécies por hectare, como explica Emídio: "Os estudos sobre a caracterização dos castanhais e a distribuição espacial das castanheiras, assim como suas associações com outras espécies, podem ser cruciais para a definição de estratégias de manejo e conservação da espécie".
Neste contexto, os pesquisadores também buscam responder a outros importantes questionamentos, como os fatores relacionados ao clima, solo, diversidade e topografia que interferem na ocorrência, abundância e produção de frutos das castanheiras. Conforme a pesquisadora, esses dados também já estão em análise, assim como dados do sensor remoto Lidar, usado para caracterização da estrutura vertical da floresta e sua relação com a produção de frutos nos castanhais.
O MapCast tem duração de 48 meses e as informações coletadas durante o período serão importantes para o avanço do conhecimento sobre a castanheira, em especial nos aspectos relacionados ao seu ambiente natural de ocorrência, fundamentais para a adaptação e recomendação de práticas de manejo adequadas às particularidades das diversas áreas da Amazônia, visando à melhoria da eficiência produtiva dacastanha e o desenvolvimento social e econômico da região", destaca a pesquisadora. 
Caracterização socioambiental e econômica
Para realizar a caracterização socioambiental e econômica de sistemas de produção da castanha-do-brasil, os pesquisadores estão buscando conhecer melhor alguns dos atores que compõem a cadeia produtiva, colhendo dados desde a produção até a comercialização. Hoje, mais de 55 mil pessoas têm seu sustento baseado no extrativismo da castanha, o que gera a necessidade de conhecimentos sobre os diferentes tipos de organização social das comunidades extrativistas e de suas relações com as áreas onde são coletadas as castanhas. Outra ação importante do projeto é a identificação de quais são os principais fatores formadores do preço do produto nas regiões estudadas.
O projeto contempla atividades em seis estados da região Norte – Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e Rondônia – e um do Centro-Oeste, o Mato Grosso. "O MapCast conta com equipe multidisciplinar, cujos membros estão empenhados na geração e na ampliação de conhecimentos sobre os castanhais naturais da Amazônia. Espera-se, ao final do projeto, em 2018, ter atingido suas metas e resultados, com contribuição para o fortalecimento da cadeia de valor da castanha-do-brasil", ressalta Emídio.
Castanheira 
A castanheira-do-brasil, árvore nativa da Amazônia, ocorre em terras altas de toda a Bacia Amazônica.  Foi descrita em 1808 pelos pesquisadores Humboldt, Bompland e Kunth, com a denominação botânica de árvore majestosa da Amazônia (Bertholletia excelsa H. B. K.). Símbolo da região, tem merecido atenção especial da pesquisa devido à sua importância social, ecológica e econômica. Além do aproveitamento dos frutos, a árvore tem aptidão madeireira, mas só pode ser explorada dessa forma em plantios, já que integra a lista do Ibama como espécie vulnerável.
Em seu ambiente natural, a árvore atinge até 50 metros de altura, sendo uma das espécies mais altas da Amazônia. O fruto da castanheira (ouriço) tem o tamanho aproximado de um coco e pode pesar cerca de dois quilos. Possui casca muito dura e abriga entre oito e 25 sementes, que são as apreciadas castanhas-do-brasil. Caso não sejam consumidas, as sementes demoram de 12 a 18 meses para germinar sem tratamento adicional. Muitas delas são plantadas por cutias, que comem algumas delas e enterram as outras para comer mais tarde. As sementes esquecidas brotarão da terra para começar um período de vida que pode chegar a até 500 anos.
A importância para o Estado do Amazonas
Na extração vegetal do Amazonas, destaca-se o valor da produção de três produtos, dois deles alimentícios – o açaí e a castanha-do-brasil – e a madeira em tora. Somados, eles contribuem com mais de 90% do valor da produção do extrativismo vegetal. A informação faz parte dos Dados Estatísticos da Produção Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas: Ano 2013, organizados e sistematizados pelo Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias (GCEA/AM), coordenado pelo IBGE, e que reúne as instituições públicas e entidades que atuam no setor primário no Estado, dentre as quais está a Embrapa Amazônia Ocidental.
No ranking dos estados brasileiros, nos quais houve maior extração de castanha-do-brasil em 2013, destacam-se o Acre, o Amazonas e o Pará. Juntos, corresponderam a 91% da produção nacional.
Unidade da Federação
Produção (t)
% total
Acre
13.599
36
Amazonas
11.785
31
Pará
9.023
24
Rondônia
1.689
4
Mato Grosso
1.596
4
Amapá
438
1
Roraima
171
0
Total
38.300
100
Conforme estudo realizado pela Câmara Setorial de Fruticultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2014, em 10 anos o Brasil deixou de ser o primeiro exportador e hoje configura-se como o terceiro da lista. O mercado é liderado pela Bolívia e pelo Peru. A cadeia produtiva de castanha no Brasil ainda enfrenta dificuldades de sustentabilidade no mercado, desde o processo extrativista até o beneficiamento.
Por Felipe Rosa e Maria José Tupinambá
Fonte: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/16593573/pesquisa-vai-gerar-metodologia-para-mapear-castanhais-na-amazonia

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