Dados do IBGE mostram que as mulheres representam quase metade da renda
das famílias rurais
Por Bruna de Alencar, com Vinicius Galera
Imagem: http://www.ucar.gob.ar/images/publicaciones/
Depois de muitos anos dedicados apenas aos afazeres domésticos e à
criação dos filhos, aos poucos as mulheres têm conquistado papel de liderança
no agronegócio. Segundo dados do último senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
hoje as mulheres do campo são responsáveis por quase metade da renda familiar
(42,4%), valor superior ao das que vivem nas cidades (40,7%). Em 2000,
ainda de acordo com o IBGE, as mulheres chefiavam 24,9% dos 44,8 milhões de
domicílios particulares. Em 2010, essa proporção cresceu para 38,7% dos 57,3
milhões de domicílios.
Muito mais do que esposas ou filhas, hoje elas são engenheiras, agrônomas e produtoras,
entre outras atividades, e provaram que o campo também é lugar de mulher.
Acumulando diplomas nas principais instituições de agronomia do Brasil e dos Estados Unidos, a atual
diretora da Rabobank, Fabiana Alves, possui um currículo de dar inveja a muita
gente.
Embora nunca tenha sido vítima
de discriminação por gênero, a diretora reconhece que é exceção no meio
rural. “Nenhuma mulher deve se sentir intimidada a buscar a sua carreira no agronegócio por ser
mulher. Os preconceitos não devem ser uma barreira para buscar seus
objetivos", afirma Fabiana. "Trabalho neste setor há muito tempo e
consigo notar um aumento na participação
das mulheres, mas a situação ainda está longe do ideal. Eu gostaria de
ver mais mulheres em posições de
liderança”, afirma Fabiana.
Criada em uma família que produz café
há cinco gerações, Lucília trouxe na hereditariedade as habilidades
de mexer na terra. Formada em engenharia
agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), ela
releva que os primeiros anos de faculdade em um ambiente majoritariamente
masculino não foram fáceis. “Quando entrei na faculdade só havia 20 estudantes
mulheres. Em uma turma de 200 pessoas, éramos 20 meninas. A diferença era
gritante”, conta.
Na época, as pessoas que a julgavam afirmavam que o ambiente rural exigia força braçal e
por isso não era recomendado para
mulheres. "Isso é mito! Força braçal não é uma exigência. Temos tecnologia para isso. Eu vejo mulher
no campo que encara qualquer situação e se mostra mais capacidade que muito
homem."
Presidente da Associação de
Agricultura Familiar de Laranjal Paulista durante dois mandatos, entre
2010 e 2014, ela afirma que é necessário se impor para ser respeitada. “A
mulher está sempre quebrando algum
padrão para ser levada a sério, ela tem sempre que ser melhor
porque, somente pelo fato de ser mulher, eu nunca sou valorizada como um homem
seria. Infelizmente, no agronegócio algumas
pessoas ainda julgam a sua opinião como inferior. É preciso se impor!”
Ana Primavesi, engenheira
agrônoma e pioneira do cultivo de orgânicos
Aos 96 anos de idade, Ana Maria Primavesi é a
personificação da luta pelo manejo ecológico na agricultura (Foto: http://revistagloborural.globo.com)
Atrás de traços doces e meigos se esconde de Ana Primavesi, uma verdadeira guerreira. Pioneira na produção de alimentos orgânicos, a engenheira agrônoma radicada no
Brasil é a personificação da luta pelo manejo
ecológico na agricultura. Fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AAO), uma das primeiras
associações de produtores orgânicos do Brasil, foi professora da Universidade Federal de Santa Maria (MS),
onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado
para a agricultura orgânica. Ao todo, foram quase cem anos empregados em
divulgar os benefícios da prática. Não por acaso o dia 3 de outubro, data de
seu nascimento, foi escolhido o “Dia Nacional da Agroecologia”.
Maria Rosa da Silva, 59 anos, nasceu e foi criada na roça, “com muito orgulho!” Aos cinco
anos começou a ajudar os pais na colheita
de algodão. A produção foi
se diversificando ao longo dos anos, mas a paixão pelo manejo da terra permaneceu.
À frente da presidência da Associação
Nova Conquista no Assentamento 2
Irmãos, na cidade de Muritinga do Sul (SP), há quatro anos, ela conta
que na região o preconceito de gênero
não tem vez. “Nós não somos homens e nem queremos ser iguais a eles,
só queremos ser reconhecidas pela nossa capacidade, assim como eles”, explica.
As mulheres do Assentamento 2
Irmãos passam longe do estereótipo de sexo frágil criado pelos
românticos do século XII. Empreendedoras,
as moradoras desejavam produzir doces
caseiros dos alimentos que cultivavam para vendê-los, mas havia um
problema: era preciso uma cozinha coletiva que seguisse as normas da Vigilância Sanitária. Juntos, 16
moradores se dedicaram à construção do cômodo; 12 deles eram mulheres. “Não
existe a necessidade do homem no campo por causa da força. Aqui, as mulheres
fazem tudo: ordenha, plantio e colheita”, afirma.
Fonte: http://revistagloborural.globo.com/Noticias/noticia/2016/03/mulheres-se-impoem-no-campo-mas-ainda-enfrentam-preconceito.html
Veja também
Las nuevas generaciones de Mujeres Rurales como promotoras del cambio - un estudio cuanti cualitativo de la situación de las mujeres rurales jóvenes, de sus necesidades y oportunidades en Argentina
e baixe o arquivo da publicação na aba Bibliografia: http://redesialbrasil.blogspot.com.br/p/bibliografia.html
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