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Extratos
fenólicos e fibras do bagaço de uva como ingredientes bioativos em leite
fermentado probiótico
Alimentos funcionais
enriquecidos com pró-bióticos – as bactérias "do bem" – poderiam
apresentar melhores efeitos se os microrganismos utilizados fossem isolados nas
regiões habitadas pelos consumidores. Isso porque essas bactérias seriam mais
adaptadas ao ecossistema intestinal das pessoas. Essa hipótese é defendida pelo
professor do Instituto de Lactologia Industrial (Inlain) da Argentina, Gabriel
Vinderola. A ideia está motivando pesquisadores a explorar melhor o potencial pró-biótico
de uma coleção de Microrganismos de Interesse da Agroindústria mantida no
Laboratório de Microbiologia da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza
(CE).
A coleção, com 2.073 acessos,
contém bactérias lácticas e microrganismos deterioradores e patogênicos
isolados de alimentos, principalmente derivados lácteos, ao longo de dez anos.
O material, caracterizado e congelado a -80°C, guarda um tesouro com potencial
para desenvolvimento de novos produtos como pró-bióticos para uso alimentício,
fermentos para laticínios e princípios ativos de interesse para as indústrias
química e farmacêutica.
De acordo com Vinderola,
estudos recentes indicam a necessidade de diversificar as bactérias
pró-bióticas utilizadas nos alimentos, isolando microrganismos do mesmo
ambiente dos consumidores. O cientista argentino é especialista no
desenvolvimento de alimentos funcionais suplementados com pró-bióticos (Bifidobacterium e Lactobacillus).
Vinderola explica que, como os
hábitos alimentares das pessoas interferem na microbiota intestinal, além de as
cepas locais serem mais adaptadas ao ecossistema intestinal, também são mais
adaptadas aos alimentos que fazem parte dos hábitos alimentares dessas pessoas.
Isso facilitaria a obtenção de novos produtos, que além de mais adaptados ao
organismo das pessoas, seriam mais facilmente incorporados à rotina alimentar.
Os alimentos pró-bióticos estão
presentes no mercado há cerca de 20 anos, principalmente nos laticínios, como
leites fermentados. Os principais produtos são elaborados por grandes empresas
internacionais, com pequena variedade de microrganismos isolados em poucos
países. "No Brasil se consome grande quantidade de sucos. Eu poderia
pensar que os pró-bióticos, quando são isolados de pessoas daqui, e colocados
em alimentos que fazem parte dos hábitos alimentares dos brasileiros, talvez
possam ter um efeito diferente, mais bem adaptado ao ecossistema
intestinal", acredita.
O especialista esteve no início
de agosto na Embrapa Agroindústria Tropical ministrando curso sobre a incorporação
de pró-bióticos em alimentos para 188 profissionais e estudantes das áreas de
microbiologia e tecnologia de alimentos. O curso faz parte das estratégias para
explorar melhor o potencial da Coleção de Microrganismos da Interesse da
Agroindústria. Pesquisadores da Embrapa selecionaram bactérias com potencial
para produção de queijos com pró-bióticos e fermento para produção de queijo
coalho, em pesquisas que ainda estão em andamento. Mas o potencial é muito
maior.
A pesquisadora da Embrapa Laura
Bruno acredita que se possa incorporar pró-bióticos a sucos e outros produtos
que são objeto de pesquisa na Empresa. Ela diz que as cepas bacterianas da
coleção são únicas e precisam ser mais bem estudadas, pois podem se apresentar
mais adaptadas às condições locais.
Conforme Vinderola, a pesquisa
com pró-bióticos está sempre muito perto de chegar a novos produtos. "Até
agora são principalmente os laticínios que incorporaram pró-bióticos, mas eu
vejo que no Brasil há consumo de frutas e sucos no café da manhã, o que é uma
oportunidade para se colocar pró-bióticos nesse tipo de alimento e levar à
população microrganismos que oferecem benefícios à saúde", defende. Ele
salientou ainda que o Brasil possui uma diversidade biológica enorme, a qual é
preciso conhecer, conservar e explorar.
O professor é também
pesquisador do Inlain, centro ligado à Universidad Nacional del Litoral e ao
Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) da
Argentina. Ele está no Brasil como professor visitante especial no projeto
Bactérias Pró-Bióticas para Alimentos: Microbiologia, Tecnologia,
Funcionalidade e Inovação", financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto é coordenado pela
Professora Ana Paula Trovatti Uetanabaro, da Universidade Estadual de Santa
Cruz, no Município de Ilhéus (BA).
Mais
bactérias que humanos
O corpo humano apresenta mais
bactérias no intestino e na pele do que células em todo o corpo. O número de
microrganismos em uma pessoa é maior que o de pessoas no planeta, e boa parte
deles protege o hospedeiro, que os herda principalmente da mãe durante o parto
natural e a amamentação. A flora bacteriana está relacionada à modulação do
sistema imunológico, ao processo de digestão e à produção de substâncias
necessárias à boa saúde das pessoas.
Conforme o professor Gabriel
Vinderola, estudos têm associado o tipo de flora intestinal dos
indivíduos a doenças como autismo, obesidade e depressão. "Temos algumas
bactérias no intestino que consomem uma substância que estabiliza o humor. Essa
poderia ser uma das causas da depressão", exemplifica.
A área mais explorada em
estudos científicos com bactérias intestinais, de acordo com Vinderola, é a que
associa a flora intestinal das pessoas à obesidade. Esses trabalhos apontam que
o perfil de bactérias intestinais de uma pessoa obesa é diferente do de uma
pessoa magra.
As pesquisas que relacionam a
flora bacteriana à cognição ainda são incipientes, porém há algumas evidências
sobre a relação de bactérias com o autismo. "Em um desses estudos, a
microbiota de uma criança autista foi transferida para um camundongo que não
tinha microbiota e esse camundongo apresentou comportamento de autista. Então,
aparentemente, as moléculas que essas bactérias produzem no intestino e chegam
ao cérebro vão determinar o comportamento do ser humano", analisa.
O especialista salienta que
esses estudos reforçam a importância do consumo de pró-bióticos e de fibras
alimentares. "Cada pessoa tem que cuidar de sua microbiota, consumindo
fibras. As fibras alimentares são o alimento de nossa microbiota, por isso
temos que consumir muita verdura e muita fruta, para alimentar essas bactérias
do nosso intestino", recomenda.
Fonte: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/15347514/alimentos-pro-bioticos-regionais-podem-apresentar-vantagens-para-o-consumidor
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