Mulheres estão envolvidas em diversas
atividades produtivas, principalmente as que demandam esforço físico, mas suas
contribuições são pouco reconhecidas. Agricultoras enfrentam carga excessiva de
trabalho no meio rural e vivem uma dupla jornada, pois cuidam do campo e dos
afazeres domésticos
Acesso direto a mercados pode promover autonomia econômica de mulheres
que trabalham na produção agrícola. Foto: FAO
Em estudo recente, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO) alerta para a falta de reconhecimento das contribuições que as mulheres trazem para o setor agrícola em
países da América Latina e Caribe. A pesquisa detalha os desafios enfrentados
pela população feminina no campo em Belize, Guatemala e Bolívia.
“No âmbito rural, as contribuições das mulheres são invisíveis, mesmo
que sejam elas as que na maioria dos casos são as responsáveis pelas atividades
da propriedade junto ao trabalho doméstico e de cuidado das casas, tarefas
essas que não são remuneradas”, destaca a oficial de Gênero da FAO, Claudia
Brito.
De acordo com a agência da ONU, no geral, as mulheres latino-americanas
e caribenhas que trabalham na agricultura estão mais envolvidas em
atividades que demandam tempo e esforço físico, como plantar, capinar e colher.
No entanto, continuam menos representadas em tarefas associadas ao
aumento da geração de renda e à participação ativa nos mercados de alta
competitividade.
Na Guatemala, por exemplo, a FAO calcula uma lacuna na posse de terra
entre homens (85%) e mulheres (15%). No país, menos de 40% das casas chefiadas
por mulheres contam com um terreno próprio.
Quando considerada o trabalho do público feminino na cadeia de produção
de milho guatemalteca, a FAO alerta para o excesso de trabalho – entre 12 e 16
horas por dia. A agência da ONU enfatiza ainda que essas camponesas têm de dar
conta de uma dupla jornada de trabalho, já que são responsáveis pela maioria
das atividades agrícolas e com os afazeres da casa.
Além disso, esse contingente de trabalhadoras enfrenta mais dificuldades
para ter acesso a serviços financeiros e carece ferramentas adequadas. Baixos
níveis de capacitação e participação reduzida em processos decisórios também
estão entre os desafios identificados pela FAO.
Trabalho pesado e escassez de tecnologia também afetam as agricultoras
que cultivam quinoa na Bolívia. No país, a FAO acredita que políticas públicas
podem fornecer insumos capazes de melhorar a produção e reduzir a carga de
trabalho das produtoras.
Garantir serviços de apoio como creches e centros de cuidado também pode
ser uma solução para que mulheres consigam equilibrar o trabalho no campo e as
atividades realizadas no âmbito privado.
“Não é possível acabar com a fome na região (América Latina e Caribe),
nem alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sem alcançar a
igualdade de gênero”, enfatizou Brito.
Em Belize, as desigualdades são menores. No cultivo nacional de
mandioca, as mulheres participam de todas as etapas da cadeia produtiva, incluindo
gestão, enquanto os homens desempenham funções limitadas à produção,
transporte e venda eventuais em mercados abertos.
A FAO sugere que os programas de capacitação técnica voltados para a
produção de mandioca sejam revisados para contemplar perspectivas de gênero,
além de recomendar o desenvolvimento de ferramentas de gerenciamento
empresarial com o mesmo enfoque.
Uma possibilidade é estimular a formalização das cooperativas de
mulheres — o que pode facilitar o acesso a serviços financeiros e melhorar a
autonomia econômica das proprietárias.
Gênero e agricultura
De acordo com a FAO, todas essas disparidades entre homens e mulheres
são “inaceitáveis”. A agência da ONU recomenda a integração do enfoque de
gênero nos sistemas agroalimentares nacionais. Isso poderia provocar uma
melhoria substancial na competitividade dos mercados, particularmente naqueles
onde as mulheres possam oferecer seus produtos sem a intervenção de
intermediários.
“Se homens e mulheres tivessem as mesmas oportunidades e benefícios na
produção, transformação e comercialização de alimentos, daríamos um passo
gigante em direção à erradicação da fome e da pobreza na América Latina e
Caribe”, assinalou Brito.
Fonte: https://nacoesunidas.org/desigualdades-de-genero-marginalizam-produtoras-agricolas-da-america-latina-e-caribe-alerta-fao/
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