Apesar de enfrentarem dificuldades, muitas famílias preferem a paz e a
tranquilidade que a vida no campo podem oferecer e acabam levando para a área
urbana essa rotina
Francisco Lopes se
aposentou, mas está na ativa na agricultura. (Fotos: Aguilar
Abecassis)
Marcela Moraes-Manaus
(AM)
Seja por necessidade ou
por amor à atividade no campo, há famílias que apesar de enfrentarem
dificuldades, preferem a paz e a tranquilidade que a vida no campo podem
oferecer e acabam levando para a área urbana essa rotina.
Francisco Lopes dos
Santos, 63, é um dos moradores mais antigos da Comunidade Agrícola Nova
Esperança, localizada entre alguns dos diversas comunidades que formam o
complexo do bairro Jorge Teixeira, limitando ao Norte com a Reserva Adolpho Duke
e a Colônia Chico Mendes; ao Sul com a quarta etapa do bairro Jorge Teixeira; a
Oeste com a etapa I do bairro Valparaíso e a Leste com os bairros João Paulo II
e Cidade Alta.
O agricultor possui uma
das produções de hortaliças mais bem estruturadas da área. “Seu Lopes”, como é
conhecido, vive há quase vinte anos na comunidade, e apesar de sempre ter tido
contato com as atividades tipicamente rurais e ribeirinhas, passou a maior
parte de sua vida servindo ao Exército Brasileiro, onde chegou a cabo,
desempenhando a profissão de fotógrafo, o que lhe rendeu um vasto conhecimento
sobre a região amazônica.
O senhor Lopes contou
para a equipe do jornal A Crítica qual a sua relação
com a agricultura e como se tornou um dos maiores produtores de hortaliças da
região. “Atualmente, possuo uma área de 3.600 metros quadrados e consigo
faturar uns dois mil reais por mês. Isso tudo foi possível porque trabalhei
muito e amo o que o que faço. Sou aposentado e esse dinheiro é como se fosse um
algo a mais. Faço isso porque não consigo ficar parado, fico impaciente,
preciso estar me movimentando”, contou.
Assim como ele, vários
outros produtores também trabalham na comunidade com o cultivo de hortaliças.
“Produzimos o coentro (cheiro-verde), a cebolinha, alface, chicória, pepino e
couve. O nosso carro chefe é o coentro. Oferecemos o produto fresco. A nossa
comunidade é uma mistura, porque vivemos de uma forma “rural”, mas estamos
inseridos em um meio urbano. Boa parte das pessoas que moram aqui não tem tanto
estudo, e o que eles sabem fazer é trabalhar na roça, trabalhar em área rural.
Trabalhamos, produzimos e vendemos os nossos produtos aqui mesmo em
mercadinhos, feiras, supermercados”, relatou.
Dificuldades
Apesar de viverem em uma
área considerada rural, os moradores da comunidade tem muitas dificuldades.
Algumas relatadas pelo seu Lopes é a falta de escola, de Unidades Básicas de
Saúde (UBSs) e falta de segurança.
Segundo o presidente da
Associação de Produtores Rurais da Comunidade Nova Esperança, no Val Paraíso,
Aparecido Antônio, considera que a comunidade seja mantida como área urbana.
“Tem agricultor que está prestes a se aposentar como área rural. Se a
comunidade for incluída em área urbana, ninguém vai conseguir se aposentar. Aí,
vão 20 anos jogados fora. Se o Val Paraíso for incluído na zona urbana, isso
vai nos empurrar e acabar por nos expulsar de lá”, disse o agricultor.
Para Francinézio Amaral, Sociólogo, "estes produtores
fazem parte de um grupo social que está à margem da sociedade, como vários
outros grupos, porém o que traz um detalhe específico é que esses grupos
eles buscaram como estratégia de sobrevivência uma atividade que não é tão
típica da cidade, a atividade agrícola.
As dificuldades que eles
encontram no dia a dia são as dificuldades que outros grupos como os
ambulantes, os feirantes e qualquer outro grupo social que desenvolve um
trabalho que esteja fora do padrão do modo de produção enfrentam.
A grande contribuição
que a análise dessas comunidades nos dá, é que elas nos ensinaram e nos ensinam
que a racionalidade que eles já possuem aliada a necessidade de reformular,
reconstruir o modo de vida, é possível reconstruir esse modo de vida com o uso
dessa racionalidade.
Com esse modo de
produção, eles se empoderaram mais, pois não dependem do regatão e do patrão
(que são os atravessadores em zona ribeirinha), estes colocavam os preços e
eram obrigados a aceitar isso.
Todos esses fatores
caracterizam essa grande transformação no modo de produção e trás um grande
ensinamento que essas comunidades trazem pra gente".
Yuri Alves, Produtora
de hortaliças
“Minha família veio do
Ceará para o Amazonas em 1992 na expectativa de construirmos uma vida melhor. A
agricultura sempre foi trabalhada em nossa família, e com toda a certeza essa
atividade é para quem gosta.
No início fomos
trabalhar para um casal de japoneses, mas o dinheiro que ganhávamos mal dava
para comprar alimentos. Meu pai, Francisco das Chagas, que ficou conhecido como
‘Ceará’ não tinha condições de nos levar para nossa cidade natal tivemos e pela
necessidade em sustentar a família meu pai decidiu montar o próprio negócio com
cultivo de hortaliças.
Hoje temos exatos 24
anos de produção agrícola, temos dois hectares de plantação de hortaliças, com
produtos 100% naturais, utilizamos fertilizantes naturais produzidos a base de
espinha de peixe, andiroba e pimenta malagueta e isso mudou a qualidade do
produto e aumentou a durabilidade. Atualmente fornecemos uma variedade de
hortaliças, a diferença está na qualidade e no sabor. O sucesso deste negócio
está no amor que temos pela produção, é uma herança que herdamos do nosso pai,
é um orgulho de servir as pessoas com um produto de qualidade. A gente ama o
que faz”.
Fonte: http://www.acritica.com/channels/governo/news/com-cheiro-de-campo-mas-dentro-da-cidade-comunitarios-realizam-agricultura-familiar
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