* Texto e título
atualizados para correção de informação.
Diferentemente do informado, o Brasil desperdiça 41 mil toneladas de alimento
por ano, e não 40 mil toneladas por dia.
Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
No Brasil, anualmente, são desperdiçadas 41 mil toneladas de alimentos,
segundo Viviane Romeiro, coordenadora de Mudanças Climáticas do World Resources
Institute (WRI) Brasil, uma instituição de pesquisa internacional. Isso coloca
o Brasil, segundo ela, entre os dez países que mais perdem e desperdiçam
alimentos no mundo. Viviane participou do Sustainable Food Summit da América
Latina, evento promovido pela Rede Save Food Brasil, na tarde de hoje (30), em
São Paulo, e que discutiu a perda e o desperdício com alimentos em todo o
mundo.
Brasil é um dos dez países que mais perdem e
desperdiçam alimentos no mundo - Imagem: eco4u.wordpress.com
“O Brasil está entre os dez
principais países que mais perdem e desperdiçam alimento. Estamos falando da
cadeia de perda e de desperdício. Perda que tem a ver com a colheita, a
pós-colheita, com a distribuição e o desperdício que já vem no final da cadeia,
que é no varejo, no supermercado e com o hábito do consumidor”, disse Viviane.
Essa perda e desperdício de alimentos
tem diversas implicações. Uma delas é com relação à segurança alimentar. “Hoje
temos aproximadamente 7 bilhões de pessoas [no mundo] e a estimativa é que, em
2050, seremos 9 bilhões. Enquanto isso, aproximadamente 1 bilhão de pessoas não
tem acesso adequado e sofre com desnutrição e falta de alimento adequado.
Então, primeiramente, essa é uma questão de segurança alimentar”, disse.
Segundo Allan Boujanic, representante
da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no
Brasil, cerca de 30% de tudo o que é produzido no mundo é desperdiçado e
perdido antes de chegar à mesa do consumidor. Isso provoca, segundo a FAO, um prejuízo
econômico estimado em US$ 940 bilhões por ano, o que corresponde a cerca de R$
3 trilhões.
Problemas ambientais
Outras implicações, segundo Viviane,
dizem respeito aos aspectos econômico e ambiental. “É um assunto que envolve
uma questão social e de segurança alimentar, de impacto econômico, mas também
de impactos ambientais e aí destacamos essencialmente a perda da
biodiversidade, impactos na biodiversidade, impactos no uso do solo, na questão
da água, da escassez da água, e também a questão do clima, das emissões de
carbono”, disse.
Sobre a questão ambiental, Viviane
disse que, se essa perda mundial com os alimentos fosse um país, ela seria o
terceiro maior país do mundo por emissão de gás de efeito estufa, por exemplo,
ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
Rede Save Food
Desperdício de
alimentos causa um prejuízo econômico estimado em US$ 940 bilhões por ano
Para buscar alternativas para reduzir
a perda e o desperdício de alimentos no país foi criada a rede Save Food
Brasil, que tem apoio da FAO, da WRI e da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), entre outros. “Essa e outras campanhas da FAO para
combater o desperdício de alimentos têm como principal mensagem a mudança de
atitude. Temos que ser mais eficientes no uso dos alimentos, mais cientes de
que o desperdício é uma realidade e produz muitos efeitos colaterais. É
necessário um forte engajamento da sociedade civil, dos produtores e dos
governos para fixar metas concretas de redução do desperdício e das perdas de
alimentos não só no Brasil, mas em todo o mundo”, disse Boujanic.
A rede, segundo Alcione Silva, membro
do corpo diretivo da Rede Save Food Brasil, foi criada pela ONU no ano passado
em diversos países. “O objetivo é, em um primeiro momento, trazer todos os atores,
instituições, empresas e simpatizantes que trabalhem o tema de perdas e
desperdícios no Brasil e, conforme essa rede for crescendo, se tornar forte o
suficiente para poder atuar em políticas públicas e inovações, trazendo
soluções para esse tema de desperdício no Brasil”, disse.
De acordo com Alcione, o desperdício
e a perda de alimentos no Brasil é muito grande, mas o país pode contribuir com
bons exemplos na mudança mundial desse cenário. Ela citou iniciativas como o
Disco Xepa, de distribuição de sopas feitas com sobras de alimentos; a produção
de tecnologia pela Embrapa; o Comida Invisível, que pretende fazer um food
truck para conscientizar crianças e escolas sobre o reaproveitamento de sobras
na cozinha; e o Fruta Imperfeita, que comercializa alimentos considerados
“imperfeitos”, tais como uma batata ou cenouras tortas.
Segundo Alcione, o desperdício e a
perda de alimentos é uma preocupação em todo o mundo porque tem um grande
impacto social, econômico e ambiental. “A gente precisa de 50% a mais de
demanda de oferta de alimentos até 2050 para alimentar essas 9 bilhões de
pessoas [estimativa de população para o ano]. Deveria ser até uma preocupação
muito maior por parte de todos os atores”, disse.
Marco regulatório
Uma das ações que poderia ajudar a reduzir o desperdício e a perda de
alimentos no país seria a adoção de um marco regulatório
Para Viviane, uma das ações que
poderia ajudar a reduzir o desperdício e a perda de alimentos no país seria a
adoção de um marco regulatório sobre o tema. “Hoje temos vários projetos de lei
mas que não foram aprovados ou promulgados. É super-importante que tenhamos um
marco regulatório específico e que proporcione segurança jurídica para que as
empresas realizem suas doações de forma adequada e para que haja incentivos e
subsídios para a redução da perda e desperdício alimentar. Essa questão
legislativa e regulatória é extremamente importante”, disse.
Para a coordenadora de Mudanças
Climáticas do WRI Brasil, inventariar a perda e o desperdício de alimentos é um
primeiro passo importante que as empresas e que os países devem fazer. Depois seria
importante estabelecer metas de redução e estratégias para que ocorram.
Para Alcione, a grande dificuldade
diz respeito à cadeia logística. “Tanto a cadeia de distribuição quanto a de
armazenamento e o consumidor final tem uma grande perda de alimentos por falta
de infraestrutura. Nossas centrais de abastecimento não tem uma infraestrutura
adequada. Faltam cadeias e câmaras frias e falta conscientização na parte de
manipulação e embalagens. O Brasil tem um grande problema de infraestrutura
hoje e de logística nessa área. Diria que esse é o problema mais grave que a
gente tem no desperdício de alimentos”, disse a integrante do corpo diretivo da
Rede Save Food Brasil.
Edição: Fábio Massalli
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