Novos estudos
mostram que apoiar famílias rurais pobres é fundamental na luta contra
desnutrição
Mariana Kaipper Ceratti
Uma vendedora de hortaliças na
Guatemala. Isabelle Schaefer/Banco Mundial
A cada dia, 27 milhões de latino-americanos e caribenhos, cerca de 5,5%
da população regional, acordam sem ter o que comer. É um número ainda colossal,
mas bem menor do que a média de 58 milhões registrada pela Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)
no período entre 1990 e 1992. À época, 14,7% dos moradores da América Latina e
do Caribe sofriam com a desnutrição.
Por isso, pode-se dizer que a América
Latina e o Caribe cumpriram a missão — estabelecida nos
Objetivos do Milênio — de diminuir pela metade,
entre 1990 e 2015, a proporção de pessoas que sofrem com a fome. As Nações
Unidas ainda consideram que a região está entre as que fizeram progressos mais
rapidamente, devido ao ótimo desempenho econômico e agrícola e às políticas de
proteção social adotadas no período. Entre elas, os programas de alimentação
escolar e apoio à agricultura familiar.
Mas um olhar mais a fundo revela como os progressos foram desiguais e o
quanto determinadas sub-regiões terão de evoluir para a América
Latina e o Caribe como um todo alcançarem a meta
número 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU em 2030: acabar
com a fome, conquistar a segurança alimentar e promover a agricultura com
sustentabilidade.
A maior parte dos avanços feitos pela região foi feita pela América do
Sul, segundo a FAO. Nela, foi possível diminuir a desnutrição em 75% desde
1990, fazendo com que a prevalência registrada em 2015 fosse de menos de 5%. Já
a América Central reduziu o problema em 38,2% no período. Exatamente 6,6% dos
centro-americanos sofriam de desnutrição no ano passado.
No Caribe, a queda foi ainda menor: 26,6% entre 1990 e 2015, resultado
puxado principalmente pelo Haiti, país de economia frágil, que enfrenta
desastres naturais constantes e baixa disponibilidade de comida para atender ao
crescimento da população. Quase 20% dos caribenhos ainda lutavam contra a
desnutrição em 2015.
Cereais e nutrição
O desafio de acabar com a fome até 2030 será grande não só na América
Latina, mas também no resto do mundo. O percentual de desnutrição caiu quase
pela metade em todo o planeta, de 19% para 11%, nos últimos 25 anos. No
entanto, ainda há 795 milhões de pessoas desnutridas no mundo hoje, a maior parte
delas em países de baixa renda, como os da África Subsaariana.
O relatório Indicadores de Desenvolvimento Global 2016, do Banco Mundial, acrescenta que será difícil cumprir a
segunda meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável se o ritmo atual de
queda continuar. Para acelerá-lo, é fundamental elevar a produtividade agrícola
das famílias de baixa renda, já que 70% dos pobres do mundo trabalham no campo.
Outro motivo para apostar na produtividade agrícola — em especial a
de cereais — é o fato de ela influenciar diretamente os números de forme e
desnutrição. De 2000 a 2012, quando houve aumento médio anual de 2,6% na
produção de cereais nos países de baixa renda, a pobreza e a desnutrição caíram
2,7% ao ano. Já entre 1990 e 1999, quando a produção ficou estagnada nos países
mais pobres do mundo, houve pouca melhora nos índices de pobreza e saúde
nutricional.
Os programas de proteção social que permitiram à América Latina e ao
Caribe avançar nos Objetivos do Milênio também podem ser uma inspiração para o
resto do mundo. Ao aumentar a produtividade e reduzir a vulnerabilidade dos
pequenos agricultores, bem como melhorar a qualidade da nutrição das crianças
em idade escolar, eles vêm contribuindo significativamente para melhorar a
segurança alimentar na região.
Mariana
Kaipper Ceratti é produtora online do Banco Mundial
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/25/internacional/1466813259_374605.html
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