Mulheres Rurais e a construção da agroecologia: por um modelo de desenvolvimento rural inclusivo e com igualdade de gênero.
Camponesas, agricultoras, mulheres indígenas, quilombolas, pescadoras. A
sociedade brasileira começa a ouvir esses termos com mais frequência na mídia.
Emma Siliprandi
Nos últimos anos, essas mulheres vêm mostrando uma capacidade organizativa e política bem importante. Deixaram de ser apenas “esposas de”, e passaram a ter nome próprio. Começam a ser titulares de empreendimentos, presidentes de cooperativas rurais, de associações e grupos de produtoras. Participam de feiras, vendem para o poder público, para os programas sociais e para a merenda escolar.
E também começaram a aparecer politicamente, participando em diversos movimentos, apresentado reivindicações ao governo e à sociedade, e se articulam nacional e internacionalmente se mostrando enquanto sujeitos políticos.
No campo da produção ecológica não tem sido diferente.
Embora as mulheres tenham participado das experiências de base ecológica desde o início desses movimentos no Brasil, na década de 1970, elas sempre foram minoritárias na sua coordenação. É sabido que são elas quem primeiro defende a conversão das propriedades para modelos mais sustentáveis, em função das suas preocupações com a saúde e alimentação das pessoas e com a preservação do ambiente. Afinal, elas sofrem as consequências diretas da degradação ambiental - por exemplo, têm que deslocar até mais longe para buscar água ou lenha para cozinhar, e quando alguém fica doente na família é sobre elas que recai o trabalho dos cuidados.
Até o início dos anos 2000, as questões trazidas pelas mulheres não tinham ocupado um lugar importante nas pautas políticas dos movimentos ecológicos no Brasil. No entanto, em várias regiões do país, algumas lideranças femininas teimosamente foram despontando e conseguiram fazer-se reconhecer. Muitas delas, ao entrarem nas lutas sociais, incorporaram discursos e práticas centradas na autonomia das mulheres.
Mas quais são, afinal, as questões que mobilizam as mulheres rurais?
São questões de ordem pessoal, familiar, assim como econômicas, políticas e ideológicas. Não são apenas de curto prazo, mas também de projeção de um futuro melhor para todas e todos.
Em primeiro lugar, o direito à terra e aos meios de produção. Para poder ter um lugar para plantar, com condições suficientes (técnicas, financeiras, de comercialização), que garantam o direito de manter suas famílias com dignidade e construir um desenvolvimento rural sustentável com base na agricultura familiar e camponesa.
As mulheres são minoria entre os proprietários de terra no Brasil, mesmo na agricultura familiar, e dentro das propriedades, devido ao monopólio de gerenciamento dos homens, quando conseguem um pedaço de terra para elas, são terras marginais, de baixa qualidade. Os recursos financeiros obtidos pela propriedade normalmente são usados nas culturas consideradas mais importantes (em geral, as que são voltadas para os mercados maiores, de maior visibilidade, gerenciadas pelos homens). Como elas se ocupam normalmente da produção voltada para o autoconsumo e para os mercados locais, contam com piores instrumentos de trabalho, pouca tecnologia, pouco apoio técnico e gerencial.
No campo da agroecologia, a principal luta das mulheres atualmente é pela preservação das sementes crioulas, contra a expansão dos cultivos transgênicos e pela diminuição do uso dos agrotóxicos. As sementes crioulas são uma tecnologia social adaptada pela agricultura camponesa durante séculos, especialmente pelas mulheres, resultado do seu trabalho laborioso de seleção e adaptação ao local, ao clima, às necessidades das pessoas. O seu uso em sistemas agroecológicos garantiria a produção limpa de alimentos. As sementes são o fruto de muita investigação empírica, que vem sendo legado generosamente às gerações futuras concretizando o que poderia ser uma agricultura realmente sustentável. O que as grandes corporações fazem é apropriar-se desse conhecimento, transformá-lo em uma mercadoria que, orientada pela maximização dos lucros, amarra os agricultores em uma cadeia sem fim de dependência tecnológica e econômica, além de provocar uma serie de riscos para a saúde das pessoas e do ambiente.
É certo que participar de experiências agroecológicas amplia as possibilidades de melhoria da vida das mulheres, pois permite trabalhar a partir de um novo paradigma de harmonia da humanidade com a natureza e entre os seres humanos, que preza pelo respeito mútuo, pela consideração pelo(a) outro(a), pela horizontalidade. O campo agroecológico favorece a participação de todos os indivíduos, busca o autoconhecimento e comprometimento com a coletividade. As mulheres rurais estão aproveitando esses espaços para crescer como indivíduos e como grupo, e têm contribuído com suas inquietações, seu conhecimento e sua experiência para o enriquecimento da visão de futuro desses movimentos, centrada na sustentabilidade e na equidade de gênero, consignas claramente ecofeministas.
Veja matéria completa em: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/Mulheres-Rurais-e-a-construcao-da-agroecologia-por-um-modelo-de-desenvolvimento-rural-inclusivo-e-com-igualdade-de-genero-/3/36146
Emma Siliprandi
Nos últimos anos, essas mulheres vêm mostrando uma capacidade organizativa e política bem importante. Deixaram de ser apenas “esposas de”, e passaram a ter nome próprio. Começam a ser titulares de empreendimentos, presidentes de cooperativas rurais, de associações e grupos de produtoras. Participam de feiras, vendem para o poder público, para os programas sociais e para a merenda escolar.
E também começaram a aparecer politicamente, participando em diversos movimentos, apresentado reivindicações ao governo e à sociedade, e se articulam nacional e internacionalmente se mostrando enquanto sujeitos políticos.
No campo da produção ecológica não tem sido diferente.
Embora as mulheres tenham participado das experiências de base ecológica desde o início desses movimentos no Brasil, na década de 1970, elas sempre foram minoritárias na sua coordenação. É sabido que são elas quem primeiro defende a conversão das propriedades para modelos mais sustentáveis, em função das suas preocupações com a saúde e alimentação das pessoas e com a preservação do ambiente. Afinal, elas sofrem as consequências diretas da degradação ambiental - por exemplo, têm que deslocar até mais longe para buscar água ou lenha para cozinhar, e quando alguém fica doente na família é sobre elas que recai o trabalho dos cuidados.
Até o início dos anos 2000, as questões trazidas pelas mulheres não tinham ocupado um lugar importante nas pautas políticas dos movimentos ecológicos no Brasil. No entanto, em várias regiões do país, algumas lideranças femininas teimosamente foram despontando e conseguiram fazer-se reconhecer. Muitas delas, ao entrarem nas lutas sociais, incorporaram discursos e práticas centradas na autonomia das mulheres.
Mas quais são, afinal, as questões que mobilizam as mulheres rurais?
São questões de ordem pessoal, familiar, assim como econômicas, políticas e ideológicas. Não são apenas de curto prazo, mas também de projeção de um futuro melhor para todas e todos.
Em primeiro lugar, o direito à terra e aos meios de produção. Para poder ter um lugar para plantar, com condições suficientes (técnicas, financeiras, de comercialização), que garantam o direito de manter suas famílias com dignidade e construir um desenvolvimento rural sustentável com base na agricultura familiar e camponesa.
As mulheres são minoria entre os proprietários de terra no Brasil, mesmo na agricultura familiar, e dentro das propriedades, devido ao monopólio de gerenciamento dos homens, quando conseguem um pedaço de terra para elas, são terras marginais, de baixa qualidade. Os recursos financeiros obtidos pela propriedade normalmente são usados nas culturas consideradas mais importantes (em geral, as que são voltadas para os mercados maiores, de maior visibilidade, gerenciadas pelos homens). Como elas se ocupam normalmente da produção voltada para o autoconsumo e para os mercados locais, contam com piores instrumentos de trabalho, pouca tecnologia, pouco apoio técnico e gerencial.
No campo da agroecologia, a principal luta das mulheres atualmente é pela preservação das sementes crioulas, contra a expansão dos cultivos transgênicos e pela diminuição do uso dos agrotóxicos. As sementes crioulas são uma tecnologia social adaptada pela agricultura camponesa durante séculos, especialmente pelas mulheres, resultado do seu trabalho laborioso de seleção e adaptação ao local, ao clima, às necessidades das pessoas. O seu uso em sistemas agroecológicos garantiria a produção limpa de alimentos. As sementes são o fruto de muita investigação empírica, que vem sendo legado generosamente às gerações futuras concretizando o que poderia ser uma agricultura realmente sustentável. O que as grandes corporações fazem é apropriar-se desse conhecimento, transformá-lo em uma mercadoria que, orientada pela maximização dos lucros, amarra os agricultores em uma cadeia sem fim de dependência tecnológica e econômica, além de provocar uma serie de riscos para a saúde das pessoas e do ambiente.
É certo que participar de experiências agroecológicas amplia as possibilidades de melhoria da vida das mulheres, pois permite trabalhar a partir de um novo paradigma de harmonia da humanidade com a natureza e entre os seres humanos, que preza pelo respeito mútuo, pela consideração pelo(a) outro(a), pela horizontalidade. O campo agroecológico favorece a participação de todos os indivíduos, busca o autoconhecimento e comprometimento com a coletividade. As mulheres rurais estão aproveitando esses espaços para crescer como indivíduos e como grupo, e têm contribuído com suas inquietações, seu conhecimento e sua experiência para o enriquecimento da visão de futuro desses movimentos, centrada na sustentabilidade e na equidade de gênero, consignas claramente ecofeministas.
Veja matéria completa em: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/Mulheres-Rurais-e-a-construcao-da-agroecologia-por-um-modelo-de-desenvolvimento-rural-inclusivo-e-com-igualdade-de-genero-/3/36146
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