Texto
e fotos: Clarissa Neherde - BBC Brasil
Alemães
desenvolveram técnica a partir de práticas antigas
Um grupo de empreendedores alemães desenvolveu uma
série de técnicas para produzir em larga escala
peixes, verduras e legumes em uma fazenda urbana na capital Berlim.
"A aquaponia, que combina a
criação de peixes e a agricultura, é um sistema antigo usado pelos astecas e
chineses. O que nós fizemos foi profissionalizar a técnica para a produção
comercial", disse à BBC Brasil Nicolas Leschke, um dos criadores do
sistema de fazendas ECT.
A motivação inicial de Leschke e sua
equipe foi o desenvolvimento de um meio de produção de alimentos em larga
escala sustentável, que não necessitasse de tantos recursos e fosse menos
poluente do que a agricultura tradicional.
A partir de maio, os moradores de
Berlim poderão comprar os primeiros legumes produzidos no que poderá ser a
maior fazenda aquapônica urbana da Europa.
Os peixes criados no local, no
entanto, só estarão à venda a partir de outubro. A estufa de 1,8 mil metros
quadrados construída no bairro de Schöneberg, ao sul da capital alemã, tem
capacidade de produzir anualmente cerca de 35 toneladas de verduras e legumes e
25 toneladas de peixe.
Água
da chuva
Um dos diferenciais da fazenda ECT é
o aproveitamento da água da chuva, que corresponde a cerca de 70% do total do
recurso utilizado no sistema. Além disso, esse uso é totalmente sustentável. A água da criação dos
peixes é rica em nutrientes e é reaproveitada em outros setores da fazenda.
A água da criação de peixes é
enriquecida naturalmente pelos resíduos produzidos pelos animais. Essa água
rica em nutrientes, por sua vez, é usada na irrigação das plantas. O CO2 gerado
na criação dos peixes também é "reciclado". Ao ser direcionado para a
estufa, ele age como um fertilizante adicional para os legumes e as verduras.
Outra grande vantagem da fazenda
urbana é a proximidade do consumidor.
"Por estarmos no meio da cidade
não temos mais custos com transporte e nossos alimentos chegam mais frescos aos
clientes", diz Robert Dietrich, um dos "farmerboys", como são
chamados os funcionários do local.
Cerca de cinco funcionários são
necessários para tocar a fazenda, que combina o uso de um sistema
computadorizado para irrigação e controle de temperatura com a plantação manual
das mudas.
Atualmente
estão sendo produzidos no local tomate, pepino, pimentão, berinjela, diversos
tipos de salada, temperos e os chamados microgreens –
pequenos vegetais ricos em nutrientes. O sistema, no entanto, pode produzir
cerca de 400 espécies de plantas.
Inauguração
lotada
Cada caixa com
legumes e verduras custa 15 euros e é entregue no mercado
A fazenda e o mercado foram
inaugurados na última sexta-feira. O evento atraiu pessoas de todas as idades.
Alguns estavam apenas curiosos em conhecer o sistema de produção, como o
empresário no ramo da jardinagem Michel Steinland.
"Eu vim aqui profissionalmente
para conhecer o projeto que uniu de forma perfeita dois campos distintos em um
design moderno. Há várias iniciativas parecidas, mas focadas na pesquisa e não
voltadas para a produção comercial como aqui", diz Steinland.
A inauguração também atraiu
potenciais clientes. Os produtos, no entanto, não serão comercializados avulsos
como nos mercados e feiras tradicionais. Os consumidores precisam fazer uma
assinatura para receber semanalmente uma caixa com diversos legumes e verduras
colhidos no local. Sua composição varia conforme a colheita.
Cada caixa custa 15 euros (pouco mais
de R$ 50) e é entregue no mercado ao lado da estufa. A fazenda tem capacidade
de produção inicial de 300 caixas por semana. Já os peixes serão retirados dos
tanques de acordo com a demanda.
Kathrin Hoffmann, que foi conhecer o
projeto, aprovou essa forma de agricultura e piscicultura e diz que pretende
apoiar a iniciativa.
"Os alimentos produzidos aqui
são relativamente caros, mas de vez enquanto, para ocasiões especiais, dá para
comprar a caixa de legumes e verduras", afirma.
Os produtos comercializados são
orgânicos, inclusive os peixes, que são alimentados apenas com ração orgânica.
Além disso, não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos na produção
das verduras.
A empresa foi criada em 2012 e usou
um contêiner como protótipo para desenvolver a técnica aplicada na fazenda. A
construção da estufa levou seis meses e custou mais de 1 milhão de euros (cerca
de R$ 3,3 milhões). O projeto foi financiado por um fundo de capitais e um
investidor privado.
Uma segunda fazenda ECT já está sendo
construída na Suíça.
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150309_fazenda_urbana_berlim_cn
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