Agricultoras familiares Pantanal realizam intercâmbio de agroextrativismo

Esses grupos trabalham em parceria com o Instituto Centro de Vida – ICV na Iniciativa de Desenvolvimento Rural Comunitário, cujo objetivo é apoiar as comunidades rurais nos processos de organização, planejamento e desenvolvimento, com base na agroecologia e suas tecnologias


Do norte ao sul do estado de Mato Grosso, grupos de mulheres se organizam para promover a agricultura familiar agroecológica, não só como meio de subsistência, mas como estilo de vida, lutando também para garantir seus direitos e conquistar reconhecimento e autonomia perante a sociedade. No município de Cotriguaçu, situado a 950 quilômetros ao noroeste de Cuiabá, os grupos Mulheres da Paz, Mulheres Unidas, Mulheres da Esperança e Mulheres da Agrovila são um exemplo dessa luta diária. Esses grupos trabalham em parceria com o Instituto Centro de Vida – ICV na Iniciativa de Desenvolvimento Rural Comunitário, cujo objetivo é apoiar as comunidades rurais nos processos de organização, planejamento e desenvolvimento, com base na agroecologia e suas tecnologias.
Já, na Baixada Cuiabana, a Associação Regional de Produtoras Extrativistas do Pantanal – Arpep, reúne os grupos Amigas do Cerrado, Amigas da Fronteira, Frutos da Terra e Margaridas, parceiras do programa Mato Grosso da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – Fase, há mais de 10 anos. A Federação, seguindo os princípios da agroecologia, atua principalmente com Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater, valorizando sempre o intercâmbio de conhecimentos com base em uma metodologia humana e participativa, considerando a realidade local com foco no empoderamento das agricultoras.

Nesse contexto, a Fase, o ICV e os grupos citados, organizaram, na semana passada, o Intercâmbio 'Mulheres no Agroextrativismo', que aconteceu nas sedes da Arpep dos grupos Frutos da Terra e Margaridas, nos municípios de Cáceres e Mirassol d'Oeste. O objetivo foi realizar um intercâmbio de experiências e saberes sobre o agroextrativismo do babaçu, comum a todos, assim como a organização dos grupos de mulheres. Após quase dois dias de viagem, cerca de 10 representantes dos quatro grupos do noroeste do estado chegaram à sede da Fase em Cáceres, onde puderam apresentar e conhecer as atividades, conquistas, dificuldades e desafios das associações presentes, antes de retomar a estrada para visitar os dois grupos anfitriões.

Durante os três dias de intercâmbio (10, 11 e 12), as mulheres compartilharam informações, técnicas, receitas e dicas ligadas ao processamento do babaçu e seus derivados, comprovados e aprovados ao degustar pratos feitos na hora, como pães, biscoitos e, inclusive, uma receita de espaguete criada durante o encontro. Ao mesmo tempo, a necessidade de união, organização e empoderamento das agricultoras foram evidenciadas ao longo de todo o Intercâmbio, principalmente ao perceber que compartilhavam vários dos problemas enfrentados no dia a dia, como a dificuldade de acesso a políticas públicas, ou a aceitação e reconhecimento de suas atividades e direitos pela sociedade, começando pelas famílias.

"Aos 25 anos, nunca tinha saído a mais de cinco quilômetros de casa, onde meu papel era cozinhar e ter filhos, como mandava meu marido. Não fazia mais nada e quase não falava com ninguém, até ficar deprimida e doente. Reagi e comecei a trabalhar fora e a fazer parte de grupos. Desde então nunca parei e agora tenho uma renda, contribuindo com a renda familiar", compartilhou uma das agricultoras presentes, ilustrando uma realidade bem conhecida por todas elas. Uma realidade como aquela que acabavam de assistir no documentário 'Minha vida é no meio do mundo', sobre a construção de um movimento de mulheres agricultoras do Polo da Borborema, Agreste da Paraíba, que testemunha da violência contra a mulher, mas, sobretudo dos caminhos de união, organização e superação a partir da vivência da agroecologia. "Foi o associativismo que nos liberou. Hoje já não dependemos de ninguém e contribuímos com a renda da comunidade. É uma coisa positiva para todos, e após muita luta nossos maridos começam a perceber isso e a nos apoiar, mesmo se ainda há muito trabalho por fazer", disse outra agricultora.

"Porém, além de todas essas dificuldades, temos que enfrentar outros problemas, já que o trabalho do agricultor familiar ainda é muito pouco valorizado pelos governos", explicou Rita Julia de Souza Zocal, presidente do Grupo das Margaridas, com relação às políticas públicas destinadas à agricultura familiar. Dentre elas, todos os grupos de mulheres tentam acessar o Plano de Aquisição de Alimentos – PAA e a Política Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, pouco adaptados à realidade, já que são extremamente burocráticos e seletivos.

A Arpep tenta aliviar esses inconvenientes planejando uma diversificação de sua produção agroextrativista e tentando acessar outros mercados graças à futura aplicação de tabelas nutricionais e códigos de barra nos seus produtos, conhecidos pela logomarca 'Do Cerrado', parte das conquistas alcançadas através de muita luta e organização.

Por outro, os grupos de mulheres de Cotriguaçu enfrentam graves dificuldades, já que faz dois anos que não têm acesso a políticas públicas devido a uma falta de organização dos órgãos públicos responsáveis do município. No entanto, os grupos conseguem garantir uma renda, graças a encomendas realizadas por meio do 'boca-a-boca' e com a participação em feiras, entre outros.

Fonte: http://www.24horasnews.com.br/noticias/ver/agricultoras-familiares-pantanal-realizam-intercambio-de-agroextrativismo.html#sthash.EKgImE48.dpuf

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