Rio Grande do Sul é líder nacional em número de
certificados conquistados
Por Joana Colussi
Márcia e Sandro Giacomelli,
com a filha Alessandra, cultivam uva moscato em Farroupilha, a décima região
gaúcha a conquistar selo de indicação geográfica. Foto: Jonas Ramos / Agencia
RBS
Em uma das regiões mais altas e frias de Farroupilha, na Serra, a família Giacomelli cultiva 1,5 hectare de uva moscato branca — variedade cada vez mais rara de se encontrar no mundo. A produção por safra, cerca de 60 mil toneladas, é toda destinada à Cooperativa Vinícola São João, que industrializa em torno de 1,5 milhão de quilos da fruta a cada colheita.
Vinhos e espumantes brancos fabricados à base de moscato na Linha Jansen, juntamente com outras oito vinícolas do município, conquistaram neste ano um selo de procedência. A certificação atesta o diferencial e a exclusividade da bebida. Em muitos países, e agora cada vez mais no mercado nacional, produtos são valorizados não apenas pela marca que ostentam, mas pela indicação da sua origem geográfica, com características naturais ou o saber local.
Batizada de Farroupilha, a certificação recebida em julho se une a um grupo seleto de 10 indicações geográficas reconhecidas no Rio Grande do Sul desde o início dos anos 2000 pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Concedidos primeiramente ao setor vitivinícola, os selos chegaram também aos doces finos de Pelotas, à carne do pampa gaúcho, ao arroz do Litoral Norte e ao couro acabado do Vale do Sinos. As certificações buscam valorizar a origem e a procedência de produtos ditos como únicos.
— Farroupilha concentra mais de 50% das uvas moscato do Brasil. Queremos tornar nossa região conhecida no mundo pelo vinho moscatel — destaca João Carlos Taffarel, presidente da Associação Farroupilhense dos Produtores de Vinho, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin).
Com o certificado de
indicação de procedência em mãos, a entidade começa agora a padronizar os
produtos para atender a critérios técnicos estabelecidos pela indicação
geográfica. O ponto de partida é no campo, de onde vem a matéria-prima.
— Originalmente, a moscato
foi plantada em diversas regiões. Aqui em Farroupilha se firmou pela boa
adaptação ao clima e ao solo — explica o engenheiro agrônomo Paulo Tesser, da
Cooperativa Vinícola São João.
Embora cultivem também
outras variedades, produtores da região não escondem a preferência pela
moscato.
— É a última a ser colhida,
com qualidade e rendimento bem superior às outras — conta Sandro Alberto
Giacomelli, 42 anos, produtor de uva ao lado da mulher, Márcia Pandolfi
Giacomelli, 39 anos, e da filha Alessandra Giacomelli, 19 anos.
Apesar da expectativa com a
indicação geográfica, produtores sabem que o trabalho é de longo prazo, pois
nem sempre resulta em efeitos imediatos no mercado. O ganho mais rápido, além
da proteção do nome de origem, é a organização dos produtores, segundo a
pós-doutora em Agronegócios Kelly Bruch, professora da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Quando sentam juntos para
conversar, começam a discutir boas práticas, abrindo espaço para avanços
coletivos — destaca Bruch.
Conhecidas há mais de um
século em países com tradição na produção de vinhos e produtos alimentícios —
França tem o champagne, e Portugal, o vinho do Porto —, as indicações
geográficas foram reconhecidas no Brasil em 1996, com a Lei de Propriedade
Industrial.
— A proteção no Brasil
sempre esteve muito ligada a marcas. Avançamos à medida em que passamos a
reconhecer o diferencial de alimentos, artesanato e também serviços — completa
Kelly.
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